Enviado especial da BBC Brasil ao Rio de Janeiro
Grupo de argentinos está ansioso por encontro pedido por papa Francisco
Cariocas e estrangeiros que vieram ao Rio para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) aguardam com ansiedade a chegada do papa Francisco ao Rio de Janeiro. O voo com o pontífice, vindo de Roma, deve chegar à cidade por volta das 16h desta segunda-feira.
Em sua primeira viagem oficial internacional, o líder da Igreja Católica permanece no Brasil por seis dias para a Jornada, maior evento do mundo direcionado a jovens católicos.
Junto com o papa, são esperados cerca de 2,5 milhões de fiéis, entre brasileiros e estrangeiros, segundo estimativas da organização do evento.
As irmãs Wanda, de 74 anos, Gláucia, 80, e Milza Kneip, 81, vieram de Cataguases, em Minas Gerais, para ver o papa. Católicas fervorosas, elas dizem ter esperança que o pontífice consiga reverter a perda de fiéis que vem atingindo a Igreja Católica nas últimas décadas no Brasil.
Segundo os últimos dados disponíveis do IBGE, em 2010, 64,6% dos brasileiros se declaravam católicos, contra 91,8% em 1970.
"A própria história de vida do papa Francisco, que sempre mostrou humildade em sua trajetória, revela que ele é a pessoa mais capacitada para comandar nossa igreja", diz Gláucia à BBC Brasil.
Para Conceição Queiroz, de 55 anos, paraibana radicada no Rio de Janeiro há duas décadas e dona de uma banca de jornal em Copacabana, o discurso do pontífice pode ter maior impacto entre os jovens.
"Neste ano, haverá dois Réveillons", diz, em alusão aos eventos programados para a orla de Copacabana, que, segundo a organização da JMJ, deve levar até 1,5 milhão de fiéis às ruas do bairro. "Só que este, diferentemente do que ocorre no fim do ano, será sem o consumo de bebida alcóolica."

As irmãs Gláucia, Wanda e Milze Kneip vieram de Minas Gerais ao Rio para ver o papa
Amiga e colega de trabalho de Conceição, Neusa Aparecida de Souza, de 54 anos, concorda e já prevê um aumento das vendas durante o período do evento.
"Com certeza, venderemos mais por causa dos dois eventos previstos aqui na orla de Copacabana (nos dias 25 e 26 de julho)".
Mas nem só católicos aguardam com ansiedade a chegada do papa. O guardador de carros carioca Jorge Garcia, de 50 anos, que declara não ter religião, diz esperar que vinda do pontífice possa ‘mudar’ a política brasileira.
"Não sou religioso, mas espero que nossos políticos se espelhem no exemplo do papa Francisco, cujo discurso é baseado na humildade", afirma ele à BBC Brasil.
Estrangeiros
Peregrinos de diferentes países do mundo também aguardam a chegada do papa: segundo a organização da JMJ, 350 mil peregrinos estrangeiros são esperados para o evento.
Abordado pela reportagem da BBC Brasil em uma paróquia do Leblon na manhã desta segunda-feira, um grupo de argentinos, em sua maioria de Córdoba, no centro do país, demonstrava ansiedade com a notícia de que o pontífice quer se encontrar reservadamente com compatriotas durante sua visita.
O encontro deve acontecer na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro na tarde de quinta-feira, 25.

Trio de peregrinos de El Salvador dizem acreditar que escolha de Francisco trará de volta os jovens à Igreja
O grupo conta que chegou ao Rio na madrugada desta segunda-feira vindo de Afonso Cláudio, no Espírito Santo, onde participou de atividades religiosas.
"Queremos aproveitar nossa temporada no Rio para trocar experiências com os jovens católicos daqui", diz à BBC Brasil Victor Emanuel Chanquia, de 20 anos.
Eles também afirmam que a escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio como o sucessor de Bento 16 já começa a surtir efeito.
"Em nosso país, percebemos uma mudança na relação dos jovens com a Igreja. Muitos estavam afastados e, com a escolha do papa Francisco, há uma sensação de proximidade que não tínhamos antes. Muitos voltaram a participar da vida religiosa", acrescenta a argentina Verónica Soledad Moreno.
Opinião semelhante é compartilhada por Yasmara Guadalupe Fuentes Cardozo (25), Karla María Rodríguez Paredes (24) e Gustavo Antonio Rivas Fuentes (23), todos de El Salvador.
"Acreditamos que a escolha do papa Francisco já havia sido designada por Deus. Temos certeza de que ele, com sua humildade, conseguirá falar a mesma língua dos fiéis, sobretudo, dos jovens".
A fé também trouxe de longe um grupo de jovens chineses. Trazidos ao Brasil por uma pastoral católica internacional, eles não quiseram se identificar por temerem represálias do governo, que proíbe o culto ao cristianismo.
"Viemos aqui para melhorar a nossa fé", diz à BBC Brasil o chinês Stephan, que prefere ser identificado por seu "nome cristão".