Por Altamiro Borges
A jornalista Eliane Cantanhêde não relaxa nem no feriadão. Ela está muito angustiada com os rumos políticos no Brasil... e no Chile! Em seu artigo de hoje na Folha, intitulado “Antes e depois do Carnaval”, a colunista da “massa cheirosa” do PSDB faz uma lista dos problemas brasileiros e lamenta: “Mas a reeleição de Dilma Rousseff em 2014 vai de vento em popa”. Já no Chile, comandado por um notório filhote do ditador Augusto Pinochet, “a economia vai bem, mas a reeleição do presidente Sebastián Piñera vai mal”.
Talvez devido à ressaca carnavalesca, a jornalista da Folha não se atentou para o fato de que a Constituição chilena proíbe a reeleição. O seu amigo FHC até poderia dar uns conselhos ao neoliberal do país vizinho sobre como comprar uns votos para garantir a reeleição. Mesmo assim, ele não teria uma vitória garantida. O ricaço Sebástian Piñera, cuja família controla vários veículos da comunicação – talvez outro motivo da afinidade de Eliane Cantanhêde – tem feito um governo desastroso, como atestam várias pesquisas.
Nas eleições municipais de outubro do ano passado, os partidos de direita do Chile, reunidos na chamada Aliança, já sofreram duro revés. Candidatos independentes e da coalizão de centro-esquerda Concertación venceram na maioria das cidades. Diante do fiasco, o desgastado Sebástian Piñera promoveu uma ampla reforma ministerial. O objetivo foi manter o bloco direitista unido, já que a guerra interna se agravou com a derrota eleitoral e com a impossibilidade do atual presidente disputar a reeleição no final de 2013.
A manobra, porém, não surtiu os efeitos desejados e o Sebástian Piñera continua batendo recordes de rejeição. O motivo do descrédito é que o governo aplica o receituário neoliberal, acelerando o desmonte do estado, da nação e do trabalho. Além disso, o herdeiro do pinochetismo esbanja truculência, ordenando violenta repressão aos protestos estudantis que agitam o Chile contra a contrarreforma da educação. Como resposta da sociedade, várias lideranças estudantis foram eleitas nas eleições de outubro passado.
No seu elitismo e na sua sanha oposicionista, Eliane Cantanhêde não leva estes fatores em conta. Ela só enxerga problemas no Brasil – inflação em alta, “Petrobras detonada”, “pibinho” e outros males – e critica a presidenta Dilma por se “reunir alegremente com líderes camponeses” e por participar da “comemoração do legado do PT”. No seu esporte favorito, ela também ataca o ex-presidente: “Depois do Carnaval, Lula reavivará a sua eficiente Caravana da Cidadania, distribuindo carisma e lábia país afora. Tudo é uma festa”.
“Assim, o Brasil segue na contramão do Chile. No simpático e aplicado país sul-americano, a economia vai bem, mas a reeleição [não leve em conta; é a ressaca carnavalesca] do presidente Sebastián Piñera vai mal. No melhor país do mundo, que é o nosso, a economia não está lá essas coisas, mas a reeleição de Dilma Rousseff em 2014 vai de vento em popa”. Cantanhêde está indignada!
OPOSIÇÃO CEGA LEVA FOLHA A MAIS UM ERRO PRIMÁRIO

Em sua coluna desta terça-feira, a jornalista Eliane Cantanhêde, da Folha, apontou um suposto paradoxo da América Latina: enquanto o mau aluno, Brasil, tende a reeleger sua presidente Dilma Rousseff, o bom aluno, Chile, deve rejeitar a reeleição de Sebastian Piñera. Ocorre que, no Chile, Piñera não poderá ser reeleito por uma razão muito simples: a constituição do país não permite dois mandatos consecutivos e o atual presidente só cogita voltar em 2018; na disputa deste ano, a favorita é a ex-presidente Michelle Bachelet
247 - Eleições presidenciais estão marcadas no Chile para o dia 17 de novembro de 2013. A menos que ocorra uma hecatombe, a ex-presidente Michelle Bachelet, que representa forças de esquerda, será eleita para mais um mandato de quatro anos. A realidade política chilena levou a jornalista Eliane Cantanhêde, da Folha, a apontar um suposto paradoxo na América Latina. Segundo ela, enquanto o mau aluno, Brasil, tende a reeleger sua presidente Dilma Rousseff, o mesmo não ocorre com o Chile, melhor aluno da classe. "No simpático e aplicado país sul-americano, a economia vai bem, mas a reeleição do presidente Sebastián Piñera vai mal. No melhor país do mundo, que é o nosso, a economia não está lá essas coisas, mas a reeleição de Dilma Rousseff em 2014 vai de vento em popa", diz ela (leia mais aqui).
Talvez os eleitores chilenos e brasileiros não sejam capazes de discernir o que é melhor, como sugere Eliane, mas a análise tem um erro básico. A constituição chilena não permite a reeleição e, portanto, Piñera não poderá se candidatar – o que se discute, hoje, é sua eventual volta em 2018.
No início do ano, Cantanhêde já havia cometido um erro, ao afirmar que uma reunião rotineira, no Ministério de Minas e Energia, havia sido convocada emergencialmente para enfrentar um apagão iminente. Como se sabe, os apagões viraram apaguinhos e depois foram tratados, pela Folha, como uma ameaça para 2014, ano de Copa do Mundo.
O que fica claro, mais uma vez, é que a oposição cega tem levado o jornal a cometer erros primários.
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/93332/Oposi%C3%A7%C3%A3o-cega-leva-Folha-a-mais-um-erro-prim%C3%A1rio.htm